Quando minha mãe era aluna, a
sua professora não precisa de muita qualificação para dar aula, era necessário
apenas que tivesse concluído a primeira fase do Ensino Fundamental e estava
apta a dar aula para os alunos (filhos de pequenos proprietários de terra da
Fazenda Caiçara) vizinhos das terras de seu pai.
Era o suficiente! Numa pequena
sala encontrava-se crianças das mais variadas idades, séries e que se esprimiam
para caber nos bancos escolares, cotoveladas para lá e para cá. Uma educação
muito rígida, se o aluno não soubesse repetir a tabuada de cor ganhava
palmatória, a professora tinha autoridade de pai e mãe, dependendo da situação
o aluno poderia até levar uma surra.
Minha tia com 50 anos guardava
mágoa da professora e não gostava nem de ver a mulher na rua.
O tempo passou e com as histórias
de minha mãe e meus tios pude ver o quanto o relacionamento aluno-professor e
professor-aluno melhorou, palmatória eu não vi, mas vi muito puxão de orelha,
arremesso de apagador, quando o aluno dava muito trabalho a professora colocava
de joelhos à frente da turma e pedia para os colegas rirem dele, vi também
muito aluno ficar sem recreio por não saber a tabuada de cor.
Muita coisa havia mudado, mas
muitas coisas ainda precisavam mudar. Vi professor ser criativo, também vi
muitos se acomodarem, vi muitos ficarem o tempo todo em pé explicando um
conteúdo com vontade e vi também muitos ficarem sentados por preguiça, vi
muitos professores trazerem ideias novas para a escola e para a turma, ficarem
antenados com algum concurso de redação de nível municipal, estadual, nacional
e vi muito professor incomodado quando o aluno sabia mais do conteúdo do que
ele porque viu na televisão.
Acredito que muitas falhas que
eu vi no pré-alfabetização foi devida realmente à falta de capacitação do
professor, quando a minha estudava se a pessoa tivesse concluído a 4ª série era
o suficiente para dar aula, na minha fase se a pessoa estivesse cursando o
magistério era o suficiente para dar aula.
Convenhamos que em ambas as épocas
não se preocupavam com a psicologia na Educação, as teorias pedagógicas e muito
menos com a didática, era necessário apenas saber matemática, sem muito bom com
cálculos e em português, dando preferência para a matemática.
O aluno se adaptava ao modo do
professor e os pais enchiam a boca para falar: minha filha é professora! Nas
novelas de época podemos perceber que os pais enchiam a boca para falar: meu
filho está estudando para ser doutor: advogado ou médico! Minha filha é a
professora da vila!
Quase nada mudou, ainda vemos
que nas escolas a maioria dos professores são mulheres, em uma turma de
Pedagogia encontramos um ou dois homens na turma.
Quando se tornam professores
vemos ainda que os professores de matemática são mais valorizados que os professores
de outras áreas, seja por status ou pelo valor da hora-aula.
Vemos
ainda muitos professores sem qualificação e que aceitam dar aula de uma
disciplina que não tem formação para atingir uma “x” horas de aula e obter um
salário melhor.
Mas,
uma coisa mudou e muito: os pais não enchem a boca para falar que os filhos são
professores e quando o filho ou a filha diz que quer ser professora os pais
logo fazem eles mudarem de ideia, até mesmos os próprios profissionais da área,
são raros os que falam que se tornaram professores por vocação, muitos dizem
que os pais não deixaram sair da cidade para fazer outra faculdade, consideram
que o curso de Pedagogia ser o mais fácil, já ouvi dizer: eu não sabia o que fazer
então decidi fazer Pedagogia. Outros falam: já trabalho na creche mesmo!
Eu
não posso ser simplesmente pedagoga por gostar de crianças, pediatras também
gostam. Eu não posso ser professora de matemática por simplesmente gostar de
matemática, os contadores também gostam, administradores.
Eu
preciso ser professora por gostar de ensinar, aprender, motivar, fazer a
diferença, fazer a criança, o adolescente e o adulto pensar diferente, por
querer fazer parte da vida do aluno e dizer: ele chegou aonde chegou e eu faço
parte da sua história! Seja médico, advogado, professora de matemática como eu,
seja como enfermeiro, contador, administrador e tantas profissões que existem e
ainda existirão.
Eu
ajudo as pessoas realizarem os seus sonhos! Quando entendermos isso, pouco
importará se tenho o título de Pedagoga, de Doutor, Mestre, se não tiver amor
de nada valem os títulos.